“A vida é missão” é o tema que vai animar a ação missionária na Igreja em outubro de 2020, em conjunto com o lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8), escolhido pelo Papa Francisco como inspiração bíblica para o dia mundial das missões. Padre Maurício Jardim, diretor das Pontifícias Obras Missionárias, fala que a inspiração para escolher a temática está na dimensão existencial da missão. «Ser missionário significa que a vida toda é uma missão. Ela não se reduz a tarefas, atividades, cursos, encontros ou visitas. Mas a missão é o todo do nosso ser! Inclusive a pessoa que está enferma e não pode mais sair de sua casa é missionária pelo seu próprio ser, onde ela está. Não há como desvincular a vida da missão». O Papa Francisco também tem destacado a dimensão existencial da missão através das exortações apostólicas Evangelii Gaudium e Gaudete et Exsultate.

Mesmo vivendo um tempo diferente, em que o mundo passa por uma pandemia que mudou nossas relações, a Campanha Missionária em 2020 quer ser um sinal de esperança para tantas vidas doadas de forma solidária. Ser discípulo missionário está além de cumprir tarefas ou fazer coisas. O Papa Francisco lembra que “a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou ornamento a ser posto de lado. É algo que não posso arrancar do meu coração” (Alegria do Evangelho, 27). «Em tempos difíceis, tempos de isolamento social, de cancelamento de tantas agendas pastorais, missionárias, de atividades, encontros e formações, a missão não foi cancelada, ela continua, pois a missão é permanente. Somos convidados a, neste tempo, olhar menos para o espelho e mais para a janela, onde o mundo precisa de nós», ressaltou o Padre Maurício Jardim.

Arte da Campanha Missionária: Uma janela para a vida

A arte da Campanha Missionária de 2020 foi idealizada tendo como conceito base a missão como janela aberta para a vida. A imagem da janela representa a capacidade do ser humano interagir com o mundo ao seu redor e assim despertar o real e generoso interesse para com o seu semelhante. Neste tempo de isolamento social em que vivemos, a janela tem sido o meio de mantermos nossas relações com o mundo e com aqueles que amamos. A janela aberta representa a atitude de acolhida para com o mundo, uma ponte que nos coloca em diálogo com os desafios da vida para além de nossas fronteiras pessoais. No centro desta janela é apresentada a figura do Papa Francisco, que tem a missão encarnada em sua vida, não somente como Pastor da Igreja universal, mas antes de tudo cristão, vocacionado e homem dedicado ao bem dos seus irmãos. Nesta imagem, o Papa é representado na espontaneidade, postura de quem acolhe, se envolve e cuida. Ele se coloca como exemplo de doação pelos valores do Reino e nesta época, tão carente de referenciais, nos dá o exemplo de uma vida onde a missão se entrelaça com as mais simples situações do quotidiano e se coloca em sintonia com os ensinamentos de Jesus.

Missa presencial no tempo da pandemia: desafio na missão

Diante do fenômeno do coronavírus, fomos desafiados a dar respostas celebrativas, mesmo que o distanciamento físico afetasse aspectos essenciais de nossa Liturgia, sobretudo a participação comunitária. A experiência atual nos coloca uma importante pergunta: uma celebração assistida na TV ou pelas Redes Sociais tem o mesmo valor que a participação presencial num ato litúrgico na comunidade ou mesmo nas celebrações da Palavra em nossas casas? Creio que nossa resposta deve iniciar dizendo que todas as formas podem ser importantes e certamente têm seu valor; mas, ao mesmo tempo, não podemos afirmar que “tudo é a mesma coisa”.

Na sua homilia da Sexta-feira, 17 de abril de 2020 na Capela Santa Marta, o Papa Francisco nos falou assim: «A igreja, os sacramentos, o povo de Deus são concretos. É verdade que neste momento devemos familiarizar-nos com o Senhor dessa maneira, mas para sair do túnel, não para ficar lá. E esta é a familiaridade dos apóstolos: não gnóstico, não viralizado, não egoísta para cada um deles, mas uma familiaridade concreta nas pessoas. Familiaridade com o Senhor na vida cotidiana, familiaridade com o Senhor nos sacramentos, entre o povo de Deus. Essa familiaridade com o Senhor, dos cristãos, é sempre comunitária. Sim, é íntimo, é pessoal, mas em comunidade . Uma familiaridade sem comunidade, uma familiaridade sem o Pão, uma familiaridade sem a Igreja, sem o povo, sem os sacramentos é perigosa. Pode tornar-se apenas familiar para mim, desapegada do povo de Deus. A familiaridade dos apóstolos com o Senhor sempre foi comunitária, sempre estava à mesa , um sinal de comunidade. Sempre foi com o Sacramento, com o Pão». Atualmente é tempo de exceção, mas fazemos o que é possível, mesmo não sendo o ideal para os cristãos. O normal é celebrar com a comunidade. Por isso, ao passar a pandemia, voltaremos com saudade para nossas comunidades. É nelas que nos alimentamos com o Pão da Palavra e da Eucaristia.

Padre Othon Etienne, spsj
INFORMATIVO DIOCESANO OUTUBRO 2020