“Se pudemos aprender algo em todo este tempo, é que ninguém se salva sozinho. É o sopro do Espírito que abre horizontes, desperta a fraternidade para dizer ‘presente’ perante a enorme e inadiável tarefa que nos espera. É urgente discernir e encontrar a pulsação do Espírito para dar impulso, juntamente com outros, a dinâmicas que possam testemunhar e canalizar a nova vida que o Senhor quer gerar neste momento concreto da história. Este é o momento propício para encontrar a coragem de uma nova imaginação possível, com o realismo que só o Evangelho nos pode oferecer.” Papa Francisco. Os impactos causados por essa pandemia ainda não podem ser calculados ou medidos, mas sabemos que são e serão muito grandes. Nem o mundo nem nós seremos os mesmos.

É certo que cada um de nós está fazendo e deverá fazer leituras próprias do caminho percorrido, durante esse período de duração da pandemia. Prejuízos e saldos serão contabilizados não somente agora, mas na trajetória a seguir. No entanto, de modo objetivo, podemos acenar para três aspectos pessoais que merecem reflexão: 1) A superação do egoísmo: mais do que nunca sentimos o quanto dependemos uns dos outros. Ficar em casa e usar máscaras quando saímos, por exemplo, foi fundamental para garantir a nossa saúde, mas também a dos nossos semelhantes.

2) A pergunta pelo essencial da vida: a triste realidade do contágio do coronavírus e a realidade de tantas mortes trágicas nos fizeram enxergar que de nada adianta poder ou dinheiro nessa hora. Todos somos vítimas em potencial.

3) O reforço das virtudes da fé, da esperança e da caridade: essas virtudes, ensina-nos a Igreja, são dons de Deus. No entanto, exigem nossa acolhida e nossa resposta diária.

 A pandemia nos cobrou criatividade e até quebra de resistências, em alguns aspectos. Também nos fez pensar em resgates e ampliação de concepções.  A Igreja sempre se atualiza, ou, como preferem os mais clássicos, é semper reformanda, sem deixar de ser fiel à sua vocação primeira. Exemplificando: quando pensávamos que poderia haver uma catequese à distância, via mídias sociais? Celebrar em casa, com os familiares, para a maioria de nós, parecia coisa somente dos primeiros tempos do cristianismo… ainda mais, sem a figura do padre. Perguntas, as mais variadas, logo começaram a aparecer: catequese por WhatsApp vale? É possível ao catequista fazer-se presente na vida do catequizando, não estando fisicamente perto dele, mas virtualmente? Na internet há afeto? E uma parcela significativa de catequizandos que não tem acesso às mídias sociais, como atingi-la? Missa pela TV ou mídias sociais vale? Existe mesmo essa tal de “comunhão espiritual”? Dá para ficar tanto tempo sem a comunhão eucarística? Mas, o leigo pode presidir celebrações e até dar bênçãos? Isso não é “coisa de padre”? Mais uma vez, temos mais perguntas do que respostas.  O Papa Francisco tem insistido na necessidade de buscarmos novas linguagens e meios para a evangelização e a catequese. Ele diz: “É preciso ter a coragem de encontrar os novos sinais, os novos símbolos, uma nova carne para a transmissão da Palavra, as diversas formas de beleza que se manifestam em diversos âmbitos culturais, incluindo aquelas modalidades não convencionais de beleza que podem ser pouco significativas para os evangelizadores, mas tornaram-se particularmente atraentes para os outros”

 

Padre Othon ETIENNE, spsj.