A mistagogia na Palavra de Deus

Setembro vem chegando florido e, para nós católicos, é o mês dedicado à Bíblia de modo particular, à leitura e aprofundamento, de um livro da Bíblia. Mas algumas pessoas me indagaram porque um mês inteiro para a Bíblia? A finalidade  deste mês temático é para que o povo católico se aproxime mais das Sagradas Escrituras, no cotidiano e no trabalho a leia e medite, a conheça e aprofunde os seus conhecimentos bíblicos, promovendo cursos bíblicos, etc.. O mês da Bíblia iniciou-se no Brasil, em 1971. O Dia da Bíblia é celebrado em 30 de setembro. A data foi escolhida por ser a festa litúrgica de São Jerônimo, o Padroeiro dos biblistas. São Jerônimo realizou a primeira tradução da Bíblia, do grego e do hebraico, para o latim, tradução conhecida como ‘vulgata’ que serve para a Bíblia Católica e para a Protestante.

 O tema e o lema do mês da Bíblia de 2020 foram escolhidos pela Comissão Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e por outras instituições bíblicas, entre elas, o Serviço de Animação Bíblica (SAB). O livro escolhido é o Deuteronômio e o lema é ‘Abre a tua mão para o teu irmão’ (Dt 15,11).  Nada mais propício à conversão e à experiência de Deus do que o contato com a Palavra, que gera encontro, intimidade, possibilitando ao sujeito ler a própria história na História da salvação, da qual fazemos parte. A Palavra de Deus é sempre lugar teológico de conversão, de alimento da fé, de iluminação e inspiração de vida, de mistagogia. Reside nela, portanto, uma densidade mistagógica, ou em outros termos, a Palavra de Deus é um caminho privilegiado para experimentar o Mistério.

Seja nas celebrações, seja nos encontros, a Bíblia é o livro por excelência do catecumenato, e no tempo da iluminação ela recebe um destaque peculiar, necessário para que o eleito faça bem sua preparação espiritual, seu retiro, para a celebração dos sacramentos. Cabe, neste momento, uma reflexão sobre o lugar que a Palavra ocupa na ‘agenda’ da paróquia. Podemos afirmar que conversão pastoral à mistagogia e a centralidade da Palavra caminham necessariamente juntas, caso contrário, a primeira não seria genuinamente conversão, e a segunda estaria deslocada do centro.

 A segunda observação diz respeito à equivalência ou aproximação entre centralidade da Palavra no catecumenato e ‘animação bíblica de todas as pastorais’, insistente pedido da Igreja nos últimos anos. Se no catecumenato a Palavra de Deus é o principal ‘material’ de que dispõe os catecúmenos e os ministérios responsáveis pela iniciação, na evangelização paroquial, em seu conjunto de ações, fala-se de ‘animação bíblica de todas as pastorais’. Portanto, ambos, catecumenato e as demais atividades da Igreja, estão convocadas a uma conversão na Palavra e para a Palavra, contudo é bem verdade que na metodologia catecumenal se pode melhor visualizar tal conversão, ou seja, no catecumenato torna-se mais evidente a ‘animação bíblica’ por meio de um projeto claramente delineado no qual a Palavra perpassa o ritmo das atividades, dos tempos e das etapas catecumenais.

Torna-se evidente que a paróquia deve caminhar para a superação de uma pastoral bíblica para a ‘animação bíblica de todas as pastorais’, no intuito de “redescobrir o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo” (DAp, 247). A Palavra de Deus não pode ser concebida como material específico de uma única pastoral, ao contrário, é a alma de todo agir eclesial, “a alma da ação evangelizadora da Igreja” (DP, 372; DAp, 248).

 A prioridade da Palavra, além de outros benefícios à comunidade, ajuda a “evitar o risco de uma abordagem individualista, tendo presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Verdade no nosso caminho para Deus”. Muitas iniciativas já existem no tocante à animação bíblica. As pastorais mais diretamente envolvidas com a Bíblia têm uma função especial neste empreendimento de colocar a paróquia em contato permanente com a Palavra. Destacam-se e merecem sempre mais incentivo os círculos bíblicos, a leitura orante da Palavra de Deus, que favorece a leitura orante da vida. Urge sempre mais implantar a prática de leitura orante da Palavra, com o método da Lectio Divina, em todas as instâncias pastorais, que sem dúvida é um meio eficaz de realizar a contínua ‘animação bíblica da pastoral’.

Referência da centralidade bíblica são as Cebs, nas quais se proporciona um olhar para a realidade a partir da Palavra de Deus que ilumina a vida e impulsiona a caminhada. Inúmeras comunidades e lideranças nasceram da leitura comunitária da Bíblia, o que mais uma vez evidencia que a renovação paroquial passa necessariamente por um novo relacionamento com a Palavra de Deus. À medida que a Bíblia oxigenar as pastorais, novos horizontes vão sendo vislumbrados, antigas práticas vão sendo corrigidas.

Père Othon ETIENNE, spsj



La mystagogie dans la Parole de Dieu


Septembre nous arrive tout en fleurs. Pour nous catholiques du Brésil ce mois est dédié à la Bible, tout particulièrement à la lecture et à la compréhension d’un livre biblique. Aux personnes qui ne manqueraient de s’interroger sur la finalité d’une telle initiative, la réponse se veut une opportunité offerte au peuple catholique de s’approcher davantage des Saintes Écritures, dans la vie quotidienne et le travail, pour qu’il la lise et la médite, la connaisse et approfondisse ses connaissances biblique (…).

Le Mois de la Bible fut initié au Brésil en 1971. Le jour de la Bible est célébré le 30 septembre. La date choisie correspond à la fête liturgique de Saint Jérôme, Patron des biblistes. À celui-ci, nous devons la Vulgate, première version latine de la Bible, traduite à la fin du quatrième siècle directement depuis le texte hébreu et grec de l’Ancien et du Nouveau Testament. À cette Bible latine, la Vulgate, se réfèrent catholiques et protestants.

Le thème et le sous-thème du Mois de la Bible de cette année ont été choisis par la Commission Biblique-Catéchétique de la Conférence Nationale des évêques du Brésil (CNBB, en portugais) en collaboration avec d’autres institutions bibliques, dont le Service d’Animation biblique (SAB). Le livre retenu pour ce mois de septembre 2020 est le Deutéronome. Un sous-titre y est adjoint : « Ouvre ta main à ton frère » (Dt 15, 11).

Rien n’est plus propice à la conversion et à l’expérience de Dieu que le contact avec la Parole, qui suscite rencontre, intimité, rendant possible la relecture de sa propre histoire personnelle à la lumière de l’Histoire du Salut, à laquelle nous participons. La Parole de Dieu est toujours un lieu théologique de conversion, d’alimentation de la foi, d’illumination et d’inspiration, de vie et de mystagogie. Aussi émane-t-elle d’elle une densité mystagogique, autrement dit, la Parole de Dieu s’y révèle un chemin privilégié pour expérimenter le mystère, y pénétrer.

Dans les célébrations comme dans les rencontres, la Bible est le Livre par excellence du catéchumène, et au temps de l’illumination, elle fait l’objet d’une emphase particulière, nécessaire pour que le catéchumène fasse correctement sa préparation spirituelle, sa retraite, en vue de la célébration des sacrements. Dans ce contexte, s’impose une réflexion sur le lieu que la Parole de Dieu occupe dans « l’agenda » de la paroisse. Nous pouvons affirmer que conversion pastorale à la mystagogie et la centralité de la Parole marchent nécessairement de pair. Le cas contraire, la première ne serait qu’une conversion superficielle, édulcorée, et la seconde serait coupée du centre.

La seconde observation souligne l’équivalence ou le rapprochement entre la centralité de la Parole de Dieu chez le catéchumène et l’animation biblique de toutes les pastorales, qu’en ces dernières années l’Église promeut avec force insistance.

Si au niveau du catéchuménat la Parole de Dieu est le principal « matériel » dont disposent les catéchumènes et les services responsables de l’initiation, en ce qui concerne l’évangélisation au niveau paroissial, dans l’ensemble des actions mises en œuvre, on parle d’Animation biblique de toutes les pastorales ». Aussi, ensemble, catéchuménat et les diverses activités de l’Église sont appelées à une conversion dans et par la Parole, surtout qu’il est bien vrai que dans la méthodologie catéchuménale une telle conversion peut mieux être visualisée, ou encore, dans le catéchuménat devient plus évidente l’animation biblique, au travers d’un projet clairement délimité dans lequel la Parole de Dieu surpasse le rythme des activités, des temps et des étapes catéchuménales.

Il devient évident que la paroisse doive cheminer pour passer d’une pastorale biblique à une animation biblique de toutes les paroisses, afin de « redécouvrir le contact personnel et communautaire avec la Parole de Dieu comme lieu privilégié de rencontre avec Jésus Christ » (Document Aparecida, 127). La Parole de Dieu ne peut pas être connue comme matériel spécifique d’une seule pastorale, au contraire, elle est l’âme de tout agir ecclésial, « l’âme de l’action évangélisatrice de l’Église » (Document Aparecida 372 ). « La théologie sacrée s’appuie sur la Parole de Dieu écrite, inséparable de la sainte Tradition, comme sur un fondement permanent ; en elle aussi elle se fortifie, s’affermit et se rajeunit toujours » (Dei Verbum 24).
La priorité de la Parole, au-delà des autres bénéfices à la communauté aide à éviter le risque d’une approche individualiste, considérant que la Parole de Dieu nous est donnée précisément pour construire la communion, pour nous unir dans la Vérité dans le même chemin vers Dieu ».

Beaucoup d’initiatives ont déjà été prises en ce qui concerne l’animation biblique. Les pastorales s’occupant plus directement de la Bible ont un rôle particulier à jouer dans ce projet consistant à mettre la paroisse en contact permanent avec la Parole.

Se détachent et méritent toujours plus de motiver les cercles bibliques, la lecture orante de la Parole de Dieu, qui favorise la lecture orante de la vie. Il est toujours plus urgent d’implanter la pratique de la lecture orante de la Parole, avec la méthode de la Lectio Divina, dans toutes les instances pastorales, qui, sans doute est un moyen efficace pour réaliser la continuelle animation biblique de la pastorale.

Une référence à la Centralité biblique sont les Communautés ecclésiales de base (CEBs), dans lesquelles est rendu possible un regard sur la réalité à partir de la Parole de Dieu qui illumine la vie et pousse à cheminer. De nombreuses communautés sont nées de la lecture communautaire de la Bible, ce qui est plus une évidence que le renouvellement paroissial passe nécessairement par une nouvelle manière d’entrer en relation avec la Parole de Dieu.

Dans la mesure où la Bible est l’oxygène des pastorales, de nouveaux horizons vont apparaître, d’antiques pratiques seront corrigées.

Père Othon ETIENNE, spsj


Traduction du portugais au français : Père Georgino RAMEAU, spsj.