Com o Salmista rezemo ou cantamos: «Aclamai o Senhor, ó terra inteira, servi ao Senhor com alegria, ide a ele cantando jubilosos»!(Salmo 99,1) O Jubileu exprime antes de tudo alegria, festa. É um tempo de graça e de salvação, em que Deus chama todos nós, pastores e fiéis, a uma profunda renovação da nossa fé e da nossa vida cristã. Estamos celebrando o compromisso de uma Igreja nascida sob o signo do memorável Concílio Ecumênico Vaticano II, repito, celebrando uma Igreja renovada, fiel e comprometida com a missão, onde o jubileu não é apenas uma festa, mas a atualização da fé, da esperança e da certeza do amor de Deus, considerando este ano, um verdadeiro Kairós ou seja o tempo de Deus, em nossa vida pessoal e comunitária.
Na organização dos dias, meses e anos o ser humano necessita de tempos especiais em que possa recomeçar a vida e rever as relações. Isso porque estruturas de pecado e injustiça se infiltram nas estruturas da sociedade e da religião. A celebração de um Ano Jubilar tem a função de propor às pessoas um recomeço, conferindo a toda nova situação de vida. Como em nossa diocese alguns anos nos separam do Ano Jubilar, é pertinente que vejamos como essa tradição foi se desenvolvendo ao longo do Antigo Testamento e como Jesus se apropriou dela em sua missão. Assim, nossas comunidades também criarão uma saudável expectativa para celebrar os cinquenta anos da Diocese de Umuarama, tempo de graça e Boas‐Novas.
- O Sábado surge como instituição para o descanso. Ele é questão de justiça: como Deus descansou, todos devem descansar (Ex 34,21; 23,12, por exemplo). Com o passar do tempo o sábado serve para recordar a libertação através do Mar Vermelho, tornando a Páscoa memorial de salvação dos hebreus (Dt 5,12‐15). Durante o exílio, os exilados reivindicavam um dia livre para reconstruir sua consciência e sua fé, uma vez embrutecidos pelo trabalho escravo. “O sábado era importante para reconstruir‐se como pessoa e reconstruir sua identidade como Povo de Deus”.
- Como o sábado, o Ano Sabático, foi instituído para ser celebrado a cada sete anos, servindo também para o descanso da terra, dos escravos. Aqui o descanso tem profunda relação com a liberdade. Posteriormente, Dt 15,1‐18 fala do perdão das dívidas e da libertação de escravos, regra difícil de ser cumprida ao longo da história.
- Após o exílio, aqueles que voltam têm como meta reconstruir o Templo, Jerusalém e as instituições do passado, a fim de preservar a identidade nacional. O profeta Isaías (56 – 66) se opõe a esse projeto por entender que o anúncio de boas notícias aos pobres deve ser a prioridade. Ou seja: a reconstrução da vida do povo é o objetivo do Ano Jubilar (cf. Is 61,1s)! Esse ano se prescreve depois de sete anos sabáticos (7 x 7 = 49). Assim, o ano 50 é ano de libertações e profundas transformações estruturais.
Resumindo: O Sábado, o Ano Sabático e o Ano Jubilar, expressam o desejo de Deus entrar na história humana. Seu ingresso no tempo e no espaço tiram a vida e a rotina da mesmice: trata‐se de um Kairós. As estruturas opressoras que desumanizam os seres humanos quando tocados por Deus são transformadas em geradoras de vida nova! Tudo é restaurado para a liberdade!
O evangelho de Lucas e a teologia desenvolvida em Atos dos Apóstolos se apropriam da imagem do Ano Jubilar para narrar a ação de Jesus, que inaugura um novo tempo! Ao narrar o início da atividade pública de Jesus, Lucas no‐lo apresenta na sinagoga de Nazaré proclamando o Ano da Graça (Lc 4,16‐21). Jesus não priorizará reconstruir estruturas materiais ou colocar o homem a serviço do sábado. Sua ação em prol do Reinado de Deus é o início de um tempo novo, em que as relações entre as pessoas e com Deus ganham novo sentido!
À medida que se aproximava a celebração do Jubileu, as pessoas iam criando uma expectativa de mudança de vida. Um tempo de graça se aproximava. Deus atuaria em breve! Estamos próximos de um novo tempo, desde que deixemos nossa mentalidade mudar, transformada pela luz e força do Espírito Santo. A Igreja no Brasil, nesta perspectiva, nos aponta quatro pilares (DGAE 88-120) para entrarmos num novo modo devser Igreja: (1) Pilar da Palavra: iniciação à vida cristã e animação bíblica da vida e da pastoral; (2)Pilar do Pâo: liturgia e espiritualidae; (3) Pilar da Caridade: serviço à vida plena; (4) Pilar da acão missionária: estado permanente de missão. Diante de tantos e tão grandes desafios, também nós devemos nos perguntar: “Que devemos fazer?”. Somente assim, nós também teremos o que celebrar e com que nos rejubilar em ocasião dos Cinquenta anos da Diocese de Umuarama.
Padre Othon ETIENNE, spsj
Maio de 2020